quarta-feira, 31 de julho de 2013

Até onde vai a hipocrisia dos médicos brasileiros?


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Por Lidiane Ramos Leal.
Hoje pela manhã, aproximadamente 40 médicos e estudantes de medicina usando jaleco branco estavam reunidos no centro de Florianópolis protestando contra a vinda de médicos estrangeiros ao Brasil. Dentre os cartazes que os manifestantes portavam, inclusive muitos com jalecos de clínicas privadas, pode-se perceber a evidente falta de respeito e ética para com os profissionais estrangeiros. Enquanto eu fazia uma foto, um dos manifestantes, com aparência de aproximadamente 60 anos de idade e com um jaleco de uma clínica privada da capital, me perguntou se eu gostei da faixa que fazia o seguinte questionamento “o Brasil quer médico meia-boca?” Imediatamente eu disse que não gostei, ele me respondeu de maneira extremamente indelicada e desrespeitosa, se você não gostou é por que é petista. Pasmem! Eu respondi que não tenho partido político, mas que sou humanista, e achei que o cartaz era uma falta de respeito com os médicos estrangeiros, e que esse tipo de acusação sem fundamento não traria melhorias para a saúde pública e inclusive caracterizava xenofobia. Então, ele disse sem fundamentar a razão, “se tu és humanista tu deverias, então, apoiar o movimento”.

Vamos aos fatos: Existe alguma razão para apoiar um movimento que é contra a classe trabalhadora? Pra mim, não. Eu não acredito que exista algum avanço coletivo nesse tipo de protesto, assim como no caso do “ato médico”, que tem como único propósito manter o corporativismo dessa classe que por alguma razão, ainda não sei qual é, se acha superior aos demais profissionais. Tanto que historicamente os movimentos em prol da saúde pública são construídos por outros profissionais da saúde, como assistentes sociais, enfermeiros, técnicos em enfermagem, psicólogos, entre outros. A comunidade médica nos recentes protestos, de forma raivosa, e mais uma vez apresentando sua ânsia por superioridade, dessa vez em relação aos profissionais estrangeiros chegam a explicitar atitudes xenofóbicas, ou seja, de forma bem aproximada a um ato criminoso os estrangeiros são taxados pela classe médica brasileira de incompetentes.
A saúde pública precisa, e com urgência, que as três esferas do governo (municipal, estadual e federal) prestem serviços de boa qualidade à população, e é óbvio que não é somente a vinda de médicos estrangeiros que irá resolver a falta de atendimento de boa qualidade à população, mas o avanço surge à partir de um compromisso entre prefeitos e governadores articulados ao governo federal. A vinda de médicos estrangeiros ao Brasil tem como propósito levar atendimento a quem precisa. E as pessoas que estão sem atendimento nas periferias e municípios do interior, por falta de profissionais, necessitam ser atendidos por médicos que tenham o mínimo de formação humanista, e isso está diretamente relacionado ao respeito às pessoas. Assim sendo, esses médicos que estão protestando com seus cartazes antiéticos, certamente não são os que irão atender respeitosamente uma pessoa no Sistema Único de Saúde. Se os médicos brasileiros duvidam da capacidade de cubanos (mesmo diante do fato de serem referência em saúde pública, ou por esse motivo) por serem nascidos em um país de organização socialista, imagina o que pensam sobre pessoas em situação de vulnerabilidade social, certamente responsabilizam essas pessoas por sua condição social, assim, preferem atender em seus consultórios e clínicas privadas, pois ali o público não padece de pobreza e os pacientes podem pagar suas caras consultas, aí a razão dos municípios do interior sofrerem com a falta de médicos.
Esses protestos politicamente ignorantes demonstram a falta de capacidade, ou de vontade, da comunidade médica em compreender as expressões da questão social, uma vez que zelam desesperadamente pelo corporativismo em detrimento da saúde pública. Nos protestos não há reflexões condizentes com a realidade social dos brasileiros, mas sim e sempre, a busca pela ampliação de seus privilégios, como mostram os cartazes expostos. Nós não queremos ir para Cuba a fim de acessar atendimento de qualidade, nós queremos ter atendimento de qualidade aqui no Brasil, e se for preciso médicos cubanos ou de outra nacionalidade, mas que estejam dispostos a atender onde tenha necessidade, cabe aos brasileiros manifestar apoio e respeito. O que não queremos são médicos que forjam horas de trabalho com dedos de silicone ou que batem o ponto e em seguida vão embora do hospital. Um bom exemplo é a recente denuncia na maternidade pública Leonor Mendes de Barros, na zona leste de São Paulo, onde os médicos passam no hospital somente para marcar o ponto, sem prestar qualquer atendimento. Assim, os médicos hipocritamente saqueiam o dinheiro do povo brasileiro que por sua vez ficam sem atendimento, e esse mesmos médicos, que ainda se sentem injustiçados, continuam recebendo sem trabalhar.
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Fotos: Lidiane Ramos Leal.

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