terça-feira, 15 de outubro de 2013

Um pouco de Paulo Freire

Por Lidiane Ramos Leal.

Paulo Freire nasceu em Recife (Pernambuco), no dia 19 de setembro de 1921. Paulo era o caçula de uma família de quatro filhos. Quando era criança, sua família passou por dificuldades econômicas, fazendo com que Paulo vivenciasse a fome e conhecesse as conseqüências que as expressões da questão social têm na educação. Paulo foi alfabetizado pelos pais (Joaquim e Edeltudes) debaixo das mangueiras de casa, escrevia no chão com gravetos. Desde cedo pode compreender a relação entre classe social e conhecimento.

A educação recebida dos pais era diferente, era dialógica, e isso certamente teve grande influência durante a sua vida. Posteriormente, Paulo procurou manter essa característica educacional com seus filhos e filhas. Durante a crise de 1929, Paulo e sua família precisaram mudar-se para Jaboatão, cidade próxima a Recife, nesse contexto Paulo terminou seu curso primário. Aos 13 anos, Paulo perdeu seu pai, que era tenente do exército, vítima de uma queda de cavalo em um desfile de 7 de setembro. Com uma pensão muito pequena a família voltou para Recife, e começou uma verdadeira maratona para sua mãe encontrar uma escola que oferecesse bolsa de estudos para Paulo. Finalmente, encontrou o Colégio Oswaldo Cruz, cujo diretor Aluízio Araújo fez somente uma exigência, que Paulo fosse estudioso.
Paulo gostava muito de estudar e na adolescência começou a desenvolver um grande interesse pela língua portuguesa. Aos 21 anos de idade já lecionava língua portuguesa, no colégio onde estudou. Tinha grande admiração e reconhecimento pelo Dr. Araújo e por sua esposa, senhora Genove. Com 22 anos de idade Paulo começa a estudar Direito na Faculdade de Direito do Recife. Enquanto cursava a faculdade casou-se com a professora primária Elza Maia Costa Oliveira, com quem teve cinco filhos. Após a primeira experiência na docência assumiu o cargo de diretor do setor de educação e cultura do SESI (Serviço Social da Indústria), onde teve seu primeiro contato com operários e com alfabetização de adultos.
Por volta de 1959, Paulo sonhava tornar-se advogado, porém desistiu na primeira causa, o motivo foi que, certo dentista do Recife, bastante jovem, estava começando a carreira, mas por força das circunstâncias, endividou-se para comprar seu equipamento de trabalho. Paulo Freire foi contratado pelo credor para cobrar a dívida. Conversando com o dentista, este lhe explicou a difícil situação em que se encontrava: - “o senhor pode levar minha mesa, meus quadros, meu sofá, minha televisão, etc; só não pode levar minha filhinha”. Diante dessa situação Paulo se sentiu extremamente desconfortável, principalmente porque se lembrava da sua infância e dos momentos difíceis que passou pela vida, e respondeu: - “Olha, você pode ficar tranqüilo por mais uma semana, porque esta é a minha primeira e última causa que defendo enquanto advogado. Talvez seu credor queira continuar com a causa, mas não serei eu o seu advogado”. E importante deixar claro que Paulo Freire nunca teve nada contra advogados, nem contra a justiça, muito pelo contrário, porém não tolerava a justiça só a favor de alguns.
Sua companheira Elza o estimulou a trabalhar com educação de modo que, juntos deram os primeiros passos no trabalho de alfabetização de adultos. Deram início ao que mais tarde seria conhecido como método Paulo Freire, uma metodologia diferente para alfabetizar adultos. Nesse contexto vivenciou a experiência de alfabetização em Angicos no Rio Grande do Norte, em que 300 produtores rurais foram alfabetizados por uma equipe em 40 horas. Naquele momento Paulo Freire se posicionou como um educador progressista, razão pelo qual, Paulo de Tarso Santos, Ministro da Educação do governo João Goulart, convidou Paulo Freire para criar o Plano Nacional de Alfabetização para Adultos em 1958.
Com a ditadura e o Golpe Militar de 1964, Paulo foi preso durante 72 dias e em seguida exilado por medo que suas ideias de cunho revolucionário tomassem força, e o governo ditatorial, obviamente, não tinha interesse em ideias revolucionárias. Paulo Freire incomodava as forças conservadoras porque seu método aumentaria o eleitorado brasileiro e as forças conservadoras perderiam seu espaço político. Incomodava, sobretudo porque o método, a campanha de alfabetização, seria um impulso para a democracia do país. Tanto que nesse contexto do Golpe Militar de 1964, o ensino de Filosofia e Sociologia foram substituídos pelas disciplinas Educação Moral e Cívica (primeiro grau), Organização Social e Política Brasileira (segundo grau) e Estudos dos Problemas Brasileiros (ensino superior). Essas disciplinas tinham uma ênfase vinculada ao regime no poder.
No exílio, no Chile (1965-1969), após organizar sua estadia, providenciou a ida de sua família para o país. Paulo trabalhou na reforma agrária, onde começou a escrever suas obras. Depois do Chile foi para os Estados Unidos vivendo por 10 anos (1970-1980), porém ele passava mais tempo na África atuando nas colônias que estavam se libertando, contexto em que obteve grande experiência.
Elza Freire largou sua carreira de educadora e durante os 16 anos que Paulo estava exilado permaneceu ao seu lado dedicando-se inteiramente a família. Finalmente chegou a anistia e a família Freire retornou ao Brasil em 16 de julho de 1980.
Nos anos 1980 trabalhou na PUC (Pontifícia Universidade Católica) e na UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) de São Paulo como professor. Tendo em vista seu reconhecimento internacional viajou para vários países e ganhou vários prêmios de universidades e organizações.
Em 1986, perdeu sua companheira Elza, vítima de um enfarte. Em seguida casou-se com Ana Araújo, e os poucos foi restabelecendo sua vida social e profissional.
Em 1989 foi Secretário de Educação do Município de São Paulo, durante a administração da prefeita Luiza Erundina, em 1991 afastou-se do cargo. De 1991 a 1997, trabalhou intensamente, brigando várias vezes contra problemas de saúde, e ainda publicou vários livros nesse período. Faleceu em 2 de maio de 1997, aos 75 anos.
        Paulo Freire não tinha medo de falar em amor, no sentido amplo, não só as pessoas, mas as árvores, os animais, enfim, amar no sentido universal. Defendia que não cabia aos opressores libertar os oprimidos, mas sim aos oprimidos libertarem-se de si mesmos e aos opressores. Não se pode entender essa afirmação sem levar em consideração sua dimensão amorosa. Essa relação se relaciona dialeticamente com a prática. Dizia Paulo que a educação é um ato político, e sendo político implica em uma escolha: ou se é a favor dos opressores ou se é a favor dos oprimidos. O ato político também é amoroso, pois implica em uma escolha e sua razão. Alertava Paulo que seria uma atitude muito ingênua acreditar que as classes dominantes desenvolveriam uma forma de educação que permitisse às classes dominadas perceberem as injustiças sociais de forma crítica. Simplesmente porque não é funcional ao sistema capitalista. 
      Paulo e Elza tinham uma enorme capacidade de amar as pessoas, portanto pode-se dizer, conforme referências, que o Método Paulo Freire nasceu de ambos, inicialmente com uma forte contribuição de Elza.



Referência: SOUZA, Ana Inês et al. (Org.). Paulo Freire: Vida e Obra. São Paulo: Expressão Popular, 2001. 368 p.

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